terça-feira, 29 de setembro de 2009

Poesia com Vinho do Porto

(Clique na imagem para ampliar)
.
No próximo dia 8 de Outubro, às 18,30h, na Casa Fernando Pessoa, haverá um encontro cultural incomum entre Portugal, Espanha e Polónia para o lançamento oficial do livro «Em Voz Baixa» (En Voz Baja), de Abel Murcia e Marian Nowínski, que inclui sete poemas de Murcia, a sua tradução em português e quatro serigrafias de Nowínski, tudo acompanhado com vinho do Porto Dona Antónia-Reserva.

domingo, 27 de setembro de 2009

Concerto de Órgão


No próximo dia 30 de Setembro, quarta-feira, dia de S. Jerónimo, pelas 21,30h, na Igreja de Santa Maria de Belém, no Mosteiro dos Jerónimos, haverá um concerto com o novo Órgão daquela igreja.
Fonte: Antena 2

Ficar de olho...

Agradeço a Nicolina Cabrita do blogue Ângulo Recto a atribuição do prémio-selo "Vale a pena ficar de olho nesse blog!" ao «Direito e Avesso».
Como nas últimas três semanas já nomeei vinte e dois blogues através deste e do «Restolhando», para já atribuo este prémio-selo ao blogue Vermelho Côr de Alface.

domingo, 20 de setembro de 2009

Parfums em Lisboa

No próximo dia 24 de Setembro, quinta-feira, às 18,30h, na Casa Fernando Pessoa, tem início o Festival Parfums de Lisbonne, que incluirá poesia em voz, em corpo, a cores...
.
Vozes faladas: Ana Hatherly, Maria do Rosário Pedreira e Pedro Tamen, lêem poemas seus e de outros poetas. Isabel Vieira e Graça dos Santos, da Companhia de Teatro Cá e Lá, lêem em francês. José Manuel Esteves, da Cátedra Lindley Cintra (Universidade de Nanterre) do Instituto Camões, lê em português.
.
Vozes cantadas: Augusto Velloso-Pampolha acompanhado ao piano por Luísa Gonçalves.
.
Versos bailados: Alice Martins e Adriano Martins
.
Colagem com palavras: jjpetit (artista plástico)
.
(nota: o blogue para que nos remete o Mundo Pessoa para sabermos pormenores desta programação, não estava actualizado até ao momento)

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Como se pode ser o maior filósofo do século XX e, ao mesmo tempo, um nazi?

«É o filósofo ou o nazi que define o povo alemão como "o povo metafísico por excelência"? [20 anos antes da chegada de Hitler, Thomas Mann dizia do povo alemão: "o povo da metafísica"]. É o nacional-socialismo que veicula a "ontologia fundamental" ou é esta quem o programa, quando, "para lá das suas insuficiências e grosserias", ele vê no "movimento hitleriano um elemento de muito maior alcance e talvez susceptível de levar, um dia, a um recolher sobre a essência ocidental e histórica do que é ser alemão"? Só existe um Heidegger, e eis o verdadeiro. Uma só tinta. Uma só voz. Ou, mais precisamente, talvez haja duas. Se insistirmos nisso, podemos continuar a defender que, "por um lado", existe o filósofo e, "por outro", o nazi. Mas, nos livros, essa fronteira não existe. Ela dilui-se no seu interior. Que digo? Em cada livro, ela dilui-se em cada página e, até mesmo, em cada palavra ou, pelo menos, em cada conceito. É impossível demarcá-la. Impossível, até, pensá-la. Se existem "dois Heidegger", eles não só coabitam sob o mesmo nome, na mesma cabeça, mas também nas mesmas figuras da língua e do pensamento. E é isto que impossibilita e torna absurda a escapatória que consistiria em dizer: "deixemos de lado o nazi, guardemos o filósofo; esqueçamos as cartas de denúncia e recordemo-nos da meditação sobre os poetas; saibamos eliminar a parte que cabe às artimanhas, ou às cobardias privadas e sobrarão os textos imortais sem os quais seriam as tarefas do pensamento que ficariam por muito tempo comprometidas". (...).
Como é que o século que agora acaba (Althusser, Foucault, Lacan e, primeiramente, Sartre, claro) se acomodou a estes conceitos que, num certo sentido, faziam pensar e, noutro, evocavam o pior? E como é que o século que se anuncia (os mesmos, mais alguns outros) poderá, deverá, lidar com este duplo imperativo de não poder pensar sem Heidegger e de não poder, também, pensar com ele?
(...) Num certo sentido, existem efectivamente dois Heidegger. Se se quiser, existe um "bom" e um "mau" Heidegger. Ainda que, desta vez, não se trate do "político" e do "filósofo". Já não se trata do patife nazi e do gentil Tales, perdido nos seus sonhos, indiferente ao horror da época e que seria necessário, como queriam fazer Les Temps Modernes, arrancar das garras do primeiro. O seccionamento ocorre no interior da própria filosofia. O que está em jogo, aquilo que está verdadeiramente em jogo, ocorre no próprio seio da sua meditação. E são duas as filosofias de Heidegger que, como um par de forças de sentido oposto, se disputam os mesmos textos e, repito, os mesmos conceitos.
Por um lado, é um Heidegger pessimista, terrivelmente sombrio, que julga o declínio irremediável e que não está evidentemente pronto, visto que não há qualquer saída, a conceder seja que privilégio for a este ou àquele regime da História e do pensamento. Para este Heidegger, a divulgação planetária da técnica é apenas a antepenúltima consequência de uma metafísica da subjectividade que começa em Platão e acaba, provisoriamente, com um nacional-socialismo que, quanto a ele, é apenas consequência dessa consequência, o último elo em data da mesma cadeia. Esse nacional-socialismo bem tinha querido ser um "recomeço grego". Mas, aqui está: nunca houve verdadeiro começo. Como poderia haver? Nesse caso, o nazismo é apenas um avatar, talvez o último, talvez não, do esquecimento milenário do Ser. Se não há muita esperança em vencê-lo e, portanto, se não há muitos motivos para combatê-lo, também não os há para aderir a ele. Afinal de contas, este primeiro Heidegger é demasiado sombrio para falar, nem que seja um momento, sobre o pretenso papel "regenerador" da revolução nazi.
Por outro lado, é um Heidegger mais positivo, mais determinado que, subitamente, não se conforma com este eterno declínio, tal como acaba de constatá-lo. É o mesmo Heidegger, descrevendo, da mesmíssima maneira, a "planetarização da técnica" e a "decadência espiritual da Terra"; É o mesmo grande filósofo glosando sobre o esquecimento do Ser e sobre o facto de que, devido a esse esquecimento, a humanidade não pára de viver nas trevas. Excepto que tudo se passa como se, de repente, este quadro sinistro não o satisfizesse mais - tudo se passa como se visse subitamente neste pessimismo uma forma de deleite lúgubre e, nesse deleite, uma consequência desse mesmo niilismo a quem movera o processo e cujo deserto não pára de aumentar. Devo também deixar que o deserto cresça? Não, parece querer responder. Estou cansado do deserto. E toma a "grande decisão" de inflectir mais ligeiramente o seu discurso, de se perguntar se não haverá maneira de começar (oh! Muito pouco! Imperceptivelmente!) a escalar a ravina da queda e do esquecimento: renuncia às aquisições da analítica do Dasein; volta atrás na sua doutrina da historicidade, na sua teroria da língua, na sua concepção de um esquecimento inscrito na própria Abertura do Ser e encontra na Alemanha, e na Alemanha da época nazi, os veículos que lhe permitirão retomar o caminho da aurora grega do pensamento. É quando se mostra que Heidegger é nazi. É quando dá por si mesmo a acreditar que o declínio é reversível, que é possível remontar o curso da catástrofe e, portanto, é quando se torna optimista, que ele adere ao hitlerismo. O hitlerismo de Heidegger não é uma noite da alma, é um momento de iluminação - é o momento em que ele procura introduzir um raio de esperança e de luz na noite do século. Tal é o princípio da separação entre os dois Heidegger. Tal é o princípio da partilha - no verdadeiro sentido de uma "crítica" - que Sartre e os outros operaram por entre os factos, sem forçosamente a formularem. Tal é, de facto, a forma da crítica que temos de reelaborar se quisermos também escapar a esse impasse cuja fórmula se enuncia da seguinte maneira: é impossível ser heideggeriano, e é impossível deixar de sê-lo. Tal é, afinal, a lição dessa crítica: o que ela nos diz do século que agora termina, o que ela nos diz daquele que se anuncia; e que o totalitarismo - como Sartre compreendera muito bem - sempre foi mais filho do dia do que da noite.»
.
in O Século de Sartre, de Bernard-Henri Lévy, pp. 216/7 e 231/2/3
.
(na imagem: Martin Heidegger )

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Casa-Poema


Hoje, às 19,30h, alguns actores da Tenda-Palhaços do Mundo, dirão poemas de Pessoa, a partir das janelas da Casa Fernando Pessoa para a rua em frente. A partir das 21,30h actuarão os Flak Ensemble e às 22,30h será representada a peça de teatro «Todos os Casados do Mundo são Mal Casados», de Inês Pedrosa a partir de textos de Ovídeo e Pessoa, encenada e interpretada por Diogo Dória. Todos estes eventos assinalam a inauguração da Casa-Poema em que se transformou a Casa Fernando Pessoa, por dentro e por fora, podendo ler-se na fachada exterior do edifício versões de uma ode de Ricardo Reis, heterónimo de Fernando Pessoa.
.

domingo, 13 de setembro de 2009

Rainer Maria Rilke - poesia (2)

Tu és o pobre, aquele que não tem nada,
tu és a pedra que não tem repouso,
tu és o leproso por todos repudiado,
vagueando em torno da cidade com o chocalho.
.
Porque nada é teu, como o que é do vento,
e a tua glória mal te cobre a nudez;
a roupa usada por um órfão consegue
ser mais deslumbrante e ao menos é sua.
.
És tão pobre como a força de um feto
numa rapariga desejosa de o esconder,
comprimindo o ventre para abafar
o primeiro sopro da sua gravidez.
.
E tu és pobre: como a chuva da Primavera
que cai docemente nos telhados da cidade,
como um desejo que o prisioneiro acalenta
na cela, privado para sempre do mundo.
E como os doentes que, ao mudarem de posição,
são felizes; como flores em carris,
tristemente pobres ao vento louco das viagens;
e como a mão em que se chora, tão pobre...
.
E que são, ao pé de ti, as aves que tremem de frio,
o que é um cão que passa dias sem comer,
o que é, ao pé de ti, o cada um perder-se,
a longa e muda tristeza dos animais
que foram esquecidos prisioneiros?
.
E todos os pobres dos asilos nocturnos,
que são eles ao pé de ti e da tua miséria?
Pequenas pedras apenas, não mós de moinho,
que todavia ainda moem um pouco de pão.
.
Mas tu estás na miséria extrema,
pedinte de rosto escondido;
tu és a grande rosa da pobreza,
a eterna metamorfose
do ouro em luz do sol.
.
Tu és o apátrida furtivo
que não encontrou lugar no mundo:
demasiado grande e pesado para ser usado.
.
Bramas na tempestade. És como a harpa
cujas cordas despedaçam o tocador.
.
in O Livro da Pobreza e da Morte (3.ª parte do Livro de Horas)

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Cordão de Leitura: 24 horas a ler em Lisboa

Nos próximos dias 19 e 20 de Setembro, com início às 15 h de sábado e encerramento às 15 h de domingo, realizar-se-à, na Praça Luís de Camões, em Lisboa, um evento dedicado ao livro e à leitura promovido pela Editora Objectiva, e que consiste numa maratona de 24 horas a ler.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Prémio-1


Agradeço à Ana Paula do blogue Catharsis, que atribuiu este prémio ao Direito e Avesso e também ao meu outro blogue, Restolhando, parecendo estar duplamente viciada esta minha leitora muito especial.
Quanto às propostas, querida Ana Paula, do mesmo modo que o ontem já não existe, o amanhã também não existe ainda, o que apenas existe é o hoje, mais exactamente o momento presente, pelo que não vale a pena fazer planos e há que aproveitar os momentos o melhor que sei (carpe diem). Inspirei-me na filosofia de Santo Agostinho.
Desta vez atribuo este prémio apenas a dois blogues; o de um jovem advogado muito especial, o Ega/Edgar, do Metafísica do Esquecimento, agora que voltou de férias, e a uma descoberta mais recente, o contador antropomórfico do blogue A Casa Improvável.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

António Aleixo - quadras


Tem quase um palmo de boca
não pode guardar segredos;
porém a testa é que é pouca:
tem pouco mais de dois dedos.
.
P'ra mentira ser segura
e atingir profundidade
tem de trazer à mistura
qualquer coisa de verdade.
.
Que importa perder a vida
em luta contra a traição,
se a Razão mesmo vencida,
não deixa de ser Razão.
.
São parvos, não rias deles,
deixa-os ser, que não são sós:
às vezes rimos daqueles
que valem mais do que nós.
.
Julgando um dever cumprir,
sem descer no meu critério,
digo verdades a rir
aos que me mentem a sério!
.
Sem que discurso eu pedisse,
ele falou, e eu escutei.
Gostei do que ele não disse,
do que disse não gostei.
.
Tu, que tanto prometeste
enquanto nada podias,
hoje que podes - esqueceste
tudo o que prometias...
.
Os novos que se envaidecem
pelo muito que querem ser,
são frutos bons que apodrecem
mal começam a nascer.
.
Mentiu com habilidade,
fez quantas mentiras quis,
agora fala verdade,
ninguém crê no que ele diz.
.
António Aleixo, poeta popular, cujo centenário do nascimento e cinquentenário da morte se assinalou em 1999.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Sophia de Mello Breyner Andresen - poema


Catarina Eufémia
.
O primeiro tema da reflexão grega é a justiça
E eu penso nesse instante em que ficaste exposta
Estavas grávida porém não recuaste
Porque a tua lição é esta: fazer frente
.
Pois não deste homem por ti
E não ficaste em casa a cozinhar intrigas
Segundo o antiquíssimo método oblíquo das mulheres
Nem usaste de manobra ou de calúnia
E não serviste apenas para chorar os mortos
.
Tinha chegado o tempo
Em que era preciso que alguém não recuasse
E a terra bebeu um sangue duas vezes puro
.
Porque eras a mulher e não somente a fêmea
Eras a inocência frontal que não recua
Antígona poisou a sua mão sobre o teu ombro no instante em que morreste
E a busca da Justiça continua
.
Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004)