sábado, 30 de novembro de 2013
quinta-feira, 17 de outubro de 2013
sexta-feira, 27 de setembro de 2013
Rainer Maria Rilke, Day in Autumn
After the summer's yield, Lord, it is time
to let your shadow lengthen on the sundials
and in the pastures let the rough winds fly.
As for the final fruits, coax them to roundness.
Direct on them two days of warmer light
to hale them golden toward their term, and harry
the last few drops of sweetness through the wine.
Whoever's homeless now, will build no shelter;
who lives alone will live indefinitely so,
waking up to read a little, draft long letters,
and, along the city's avenues,
fitfully wander, when the wild leaves loosen.
Rainer Maria Rilke
(tradução de Mary Kinzie)
quarta-feira, 28 de agosto de 2013
terça-feira, 6 de agosto de 2013
Natália Correia, Da clara à negra ciência
Uma laranja cai
E o chão impede
Que ela infinitamente caia.
Impedimento
Ou o invento
De uma ciência
Que já foi gaya
E agora é triste-
mente astronómica.
Raios a partam
A bomba atómica!
Natália Correia, in Poesia Completa, Dom Quixote, Lisboa, 1999
Nota: lembrei-me deste poema para assinalar os 68 anos que decorreram desde o lançamento da bomba atómica sobre Hiroshima (6/08/1945)
domingo, 28 de julho de 2013
segunda-feira, 22 de julho de 2013
sexta-feira, 21 de junho de 2013
quinta-feira, 13 de junho de 2013
Fernando Pessoa/ Ricardo Reis, "Não só quem nos odeia ou nos inveja"
Não só quem
nos odeia ou nos inveja
Nos limita
e oprime; quem nos ama
Não menos
nos limita.
Que os
deuses me concedam que, despido
De afectos,
tenha a fria liberdade
Dos
píncaros sem nada.
Quem quer
pouco, tem tudo; quem quer nada
É livre;
quem não tem, e não deseja,
Homem, é
igual aos deuses.
Fernando Pessoa/ Ricardo Reis, Odes
(13/06/1888
– 30/11/1935)
domingo, 12 de maio de 2013
sábado, 27 de abril de 2013
Fernando Pessoa/ Alberto Caeiro, "Quem me dera..."
Quem me
dera que eu fosse o pó da estrada
E que os
pés dos pobres me estivessem pisando…
Quem me
dera que eu fosse os rios que correm
E as
lavadeiras estivessem à minha beira…
Quem me
dera que eu fosse os choupos à margem do rio
E tivesse
só o céu por cima e a água por baixo…
Quem me
dera que eu fosse o burro do moleiro
E que ele
me batesse e me estimasse…
Antes isso
que ser o que atravessa a vida
Olhando
para trás de si e tendo pena…
Poema XVIII de O Guardador de
Rebanhos
terça-feira, 19 de março de 2013
Fernando Pessoa/ Alberto Caeiro, "Se eu pudesse..."
Se eu
pudesse trincar a terra toda
E
sentir-lhe um paladar,
E se a
terra fosse uma cousa para trincar
Seria mais
feliz um momento…
Mas eu nem
sempre quero ser feliz.
É preciso
ser de vez em quando infeliz
Para se
poder ser natural…
Nem tudo é
dias de sol,
E a chuva,
quando falta muito, pede-se.
Por isso
tomo a infelicidade com a felicidade
Naturalmente,
como quem não estranha
Que haja
montanhas e planícies
E que haja
rochedos e erva…
O que é
preciso é ser-se natural e calmo
Na
felicidade ou na infelicidade,
Sentir como
quem olha,
Pensar como
quem anda,
E quando se
vai morrer, lembrar-se de que o dia morre,
E que o
poente é belo e é bela a noite que fica…
Assim é e
assim seja…
(Poema XXI de O Guardador de Rebanhos)
sábado, 23 de fevereiro de 2013
sábado, 9 de fevereiro de 2013
Fernando Pessoa, "A ciência de vencer"
Estão cheias as livrarias de todo o mundo de livros que
ensinam a vencer. Muitos deles contêm indicações interessantes, por vezes
aproveitáveis. Quase todos se reportam particularmente ao êxito material, o que
é explicável, pois é esse o que supremamente interessa à grande maioria dos
homens.
A ciência de vencer é, contudo, facílima de expor; em
aplicá-la, ou não, é que está o segredo do êxito ou a explicação da falta dele.
Para vencer – material ou imaterialmente – três coisas definíveis são precisas:
saber trabalhar, aproveitar oportunidades e criar relações. O resto pertence ao
elemento indefinível, mas real, a que, à falta de melhor nome, se chama sorte.
Não é o trabalho, mas o saber trabalhar, que é o segredo do êxito
no trabalho. Saber trabalhar quer dizer: não fazer um esforço inútil, persistir
no esforço até ao fim, e saber reconstruir uma orientação quando se verificou
que ela era, ou se tornou, errada.
Aproveitar oportunidades quer dizer não só não as perder,
mas também achá-las. Criar relações tem dois sentidos – um para a vida
material, outro para a vida mental. Na vida material, a expressão tem o seu
sentido directo. Na vida mental, significa criar cultura. A história não
regista um grande triunfador material isolado, nem um grande triunfador mental
inculto. Da simples “vontade” vivem só os pequenos comerciantes; da simples
“inspiração” vivem só os pequenos poetas. A lei é uma para todos.
Fernando Pessoa in Teoria e Prática do Comércio
domingo, 20 de janeiro de 2013
sábado, 12 de janeiro de 2013
Mário de Sá-carneiro, Além - Tédio
Nada me expira já, nada me vive -
Nem a tristeza nem as horas belas.
De as não ter e de nunca vir a tê-las,
Fartam-me até as coisas que não tive.
Como eu quisera, enfim de alma esquecida,
Dormir em paz num leito de hospital...
Cansei dentro de mim, cansei a vida
De tanto a divagar em luz irreal.
Outrora imaginei escalar os céus
À força de Ambição e nostalgia,
E doente-de-Novo, fui-me Deus
No grande rastro fulvo que me ardia.
Parti. Mas logo regressei à dor,
Pois tudo me ruiu... Tudo era igual:
A quimera, cingida, era real,
A própria maravilha tinha cor!
Ecoando-me em silêncio, a noite escura
Baixou-me assim na queda sem remédio;
Eu próprio me traguei na profundura,
Me sequei todo, endureci de tédio.
E só me resta hoje uma alegria:
É que, de tão iguais e tão vazios,
Os instantes me esvoam dia a dia
Cada vez mais velozes, mais esguios...
Mário de Sá-Carneiro, in Poesias Completas
Nem a tristeza nem as horas belas.
De as não ter e de nunca vir a tê-las,
Fartam-me até as coisas que não tive.
Como eu quisera, enfim de alma esquecida,
Dormir em paz num leito de hospital...
Cansei dentro de mim, cansei a vida
De tanto a divagar em luz irreal.
Outrora imaginei escalar os céus
À força de Ambição e nostalgia,
E doente-de-Novo, fui-me Deus
No grande rastro fulvo que me ardia.
Parti. Mas logo regressei à dor,
Pois tudo me ruiu... Tudo era igual:
A quimera, cingida, era real,
A própria maravilha tinha cor!
Ecoando-me em silêncio, a noite escura
Baixou-me assim na queda sem remédio;
Eu próprio me traguei na profundura,
Me sequei todo, endureci de tédio.
E só me resta hoje uma alegria:
É que, de tão iguais e tão vazios,
Os instantes me esvoam dia a dia
Cada vez mais velozes, mais esguios...
Mário de Sá-Carneiro, in Poesias Completas
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