Nos próximos dias 23, 24 e 25 de Abril (Sexta-feira a Domingo) voltam ao Centro Cultural de Belém, em Lisboa, os Dias da Música, este ano inspirados na obra de Descartes, As Paixões da Alma. O programa dos concertos e restantes eventos está disponível AQUI.
Encostei-me para trás na cadeira de convés e fechei os olhos,
E o meu destino apareceu-me na alma como precipício.
A minha vida passada misturou-se com a futura,
E houve no meio um ruído do salão de fumo,
Onde, aos meus ouvidos, acabara a partida de xadrez. . Ah, balouçado Na sensação das ondas, Ah, embalado Na ideia tão confortável de hoje ainda não ser amanhã, De pelo menos neste momento não ter responsabilidades nenhumas, De não ter personalidade propriamente, mas sentir-me ali, Em cima da cadeira como um livro que a sueca ali deixasse. . Ah, afundado Num torpor da imaginação, sem dúvida um pouco sono, Irrequieto tão sossegadamente, Tão análogo de repente à criança que fui outrora Quando brincava na quinta e não sabia álgebra, Nem as outras álgebras com x e y's de sentimento. . Ah, todo eu anseio Por esse momento sem importância nenhuma Na minha vida, Ah, todo eu anseio por esse momento, como por outros análogos - Aqueles momentos em que não tive importância nenhuma, Aqueles em que compreendi todo o vácuo da existência sem inteligência para o compreender E havia luar e mar e a solidão, ó Álvaro. . Poemas/ Álvaro de Campos
Se recordo quem fui, outrem me vejo, E o passado é o presente na lembrança. Quem fui é alguém que amo Porém somente em sonho. E a saudade que me aflige a mente Não é de mim nem do passado visto, Senão de quem habito Por detrás dos olhos cegos. Nada, senão o instante, me conhece. Minha mesma lembrança é nada, e sinto Que quem sou e quem fui São sonhos diferentes. . Odes/ Ricardo Reis