sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Florbela Espanca - Soneto "Esquecimento"

Esse de quem eu era e que era meu,
Que foi um sonho e foi realidade,
Que me vestiu a alma de saudade,
Para sempre de mim desapareceu.
.
Tudo em redor então escureceu,
E foi longínqua toda a claridade!
Ceguei ... tacteio sombras ... que ansiedade!
Apalpo cinzas porque tudo ardeu!
.
Descem em mim poentes de Novembro ...
A sombra dos meus olhos, a escurecer ...
Veste de roxo e negro os crisântemos ...
.
E desse que era meu já me não lembro ...
Ah! a doce agonia de esquecer
A lembrar doidamente o que esquecemos! ...

9 comentários:

Benjamina disse...

Olá Josefa
Como é lindo e triste esse poema da Florbela Espanca, sobre a dor de perder e a "dor" de esquecer.
Um abraço

Miguel Gomes Coelho disse...

Um lindíssimo soneto do "Reliquiae".
Um exemplo de como o desejo, a ausência e a saudade embriagam.
Um abraço.

c.a. (n.c.) disse...

Magnífico!
Abraço

Manuela Freitas disse...

Olá Josefa,
Se a poesia fosse um reflexo da vida de quem escreve, podiamos pensar em Apeles!...Não sei se a poesia pode resultar de uma vivência ou de uma fantasia!?... Serão as duas? Para quem a lê, não sente que se «cola» aos seus próprios sentires?
Gosto de Florbela, li a obra dela e li uma biografia muito boa feita pela Agustina.
Bjs,
Manuela

Maria Josefa Paias disse...

Obrigada Benjamina.
Os da Florbela são na sua maioria belos e tristes, doloridos, como a sua vida e a de muitas outras pessoas.
Um abraço.

Maria Josefa Paias disse...

Obrigada Miguel.
E a dor de esquecer e de não conseguir esquecer e a de ser esquecido.
Um abraço.

Maria Josefa Paias disse...

Muito obrigada c.a.
Um abraço.

Maria Josefa Paias disse...

Manuela,
No caso de Florbela Espanca é um reflexo da sua própria vida.
Há poetas mais cerebrais, em que as palavras são as rainhas e não os sentimentos que possam veicular.
Quando, ao lermos poesia ou alguma prosa, nos sentimos retratados, então podemos dizer que se "cola" ao nosso próprio modo de sentir. A esses eu chamo almas gémeas.
Bjs

Ana Paula Sena disse...

Gosto também muitíssimo da Florbela Espanca, ainda que, como bem assinala a Josefa, se trate de uma poesia menos cerebral, carregada sobretudo de sensações e de marcas corpóreas. Quase se sente o que a autora sentia quando assim escreveu, dado o seu talento para transmitir intensamente as suas sensações e sentimentos.

O Direito e Avesso está sempre de parabéns, com tão bem escolhida poesia :)