domingo, 9 de agosto de 2009

Desabafos da Luísa (1)

Cada qual com a sua cruz
Dizia-me a Luísa num destes dias: - É tão triste apercebermo-nos de que não temos ninguém neste mundo, mesmo quando temos ainda família, e aí é que reside o desgosto, ter família e tudo se passar como se a não tivesse. Não querem saber de ninguém senão deles próprios. Se contactam, é para anunciar funerais, ou enviam um ou outro sms pelo Natal e pelos meus anos, e está feito. Por vezes sinto que até Deus se esqueceu de mim. Vim sentar-me neste banco de jardim, ao sol, porque preciso que esta luz penetre nos meus olhos; preciso de me afastar de casa onde há dias em que não paro de chorar. Choro a morte de escritores, de pintores, de actores, de poetas, de gente que embelezou este mundo, que não por mim. Para cúmulo, a maioria das mensagens que recebo pela Internet, são reencaminhamentos daquelas paisagens muito bonitas onde se sobrepõem textos mais ou menos espirituais ou filosóficos, autênticos tratados sobre a verdadeira amizade, o verdadeiro amor, como as famílias podem ser felizes, como podemos salvar o planeta, os animais, os rios e os oceanos, enfim, essas mensagens que circulam pelo mundo electrónico e que recebemos mais que uma vez. No entanto, se estou vários dias sem as reencaminhar, nenhuma dessas pessoas, que se mostram tão minhas "amigas" e que se "lembram tanto de mim" através desse tipo de mensagens que me enviam, e que toda a gente recebe, nenhuma delas, até hoje, se lembrou de me enviar uma mensagem personalizada ou sms onde, simplesmente, me pergunte se estou doente, se necessito de alguma coisa, de companhia, de conversar, de desabafar, como estou agora a fazer consigo!

Sem comentários: