sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Eugénio de Andrade - poema "À minha porta"

À minha porta senta-se outra vez
o inverno. Traz consigo
o mar. Está velho
e magro o mar, negro de crude.
Também traz árvores; cegas
e sem nenhum pássaro:
mesmo sem vento cambaleiam.
Tenho dó das suas folhas
de borco na rua,
a respiração difícil.
Quem virá, injuriando o tempo,
sacudindo as grossas
gotas de frio?
Só um sorriso aceso
lhe aqueceria as mãos; do coração
não falo: não há lume
que o torne enxuto e novo.

6 comentários:

Miguel Gomes Coelho disse...

Maria Josefa,
São todos lindos, e este não foje à regra, de uma sensibilidade à flor da pele.
É assim este nosso magnífico poeta, tão dos nossos dias.
Um abraço.

Maria Josefa Paias disse...

Já publiquei outros, Miguel. Este pareceu-me adequado hoje.
Um abraço e obrigada.

Manuela Freitas disse...

Olá Josefa,
Tenho um grande apreço por este poeta e tive o previlégio de o conhecer. Via-o muitas vezes pelas ruas da cidade, nessa altura ainda trabalhava e depois assisti a recitais que deu, inclusive na casa-fundação (pena que esteja presentemente, sem nenhuma actividade). Quando fez 80 anos, foi feita uma grande festa de homenagem, na Biblioteca Almeida-Garrett, nessa altura já estava hospitalizado e eu estive presente, foi realmente emocionante, com muitos poetas a dizer poesias dedicadas a Eugénio.
Também já fui à Póvoa da Atalaia, no Alentejo de que tanto gosto, ver onde nasceu José Fontinhas.
Mais importante do que tudo isto é que leio e releio a sua poesia.
Para mim também, mais um dos grandes poetas portuguesas.
Beijinhos e bom fim-de-semana.
Manuela

Maria Josefa Paias disse...

Muito obrigada, Manuela.
Um bom fim-de-semana para si também.
Beijinhos.

Ana Paula Sena disse...

Foi, e será sempre, um dos mais "Nossos" poetas. Tinha um olhar límpido a escrever.

Obrigada, Josefa :)

partilha de silêncios disse...

Saudades, do nosso poeta !!

Obrigada

bjs