"Há uma ironia e um prazer especiais em desmascarar um moralista com a falhas morais que ele próprio denuncia. É o mesmo prazer que sentimos com uma anedota bem contada. Algumas piadas são divertidas como réplicas simples, de uma só fala, mas a maior parte exige três partes diferentes, por exemplo, três tipos que entram num bar um de cada vez, ou um padre, um ministro protestante e um rabi num barco salva-vidas. Os dois primeiros estabelecem a norma e o terceiro viola-a. A prédica do hipócrita é a armadilha e a acção é o desfecho da anedota. O escândalo é um bom divertimento porque permite que sintamos desprezo, uma emoção moral que nos faz sentir superiores sem nada pedirmos em troca. Com o desprezo, não precisamos de corrigir o que está mal (como com a raiva) ou de fugir do sítio onde nos encontramos (como acontece com o medo ou a repugnância). E, melhor ainda, o desprezo é feito para ser partilhado. As histórias acerca dos defeitos morais dos outros estão entre os tipos de mexericos mais comuns, são um dos pilares das conversas em certos programas de rádio e oferecem uma maneira simples de as pessoas mostrarem que partilham uma orientação moral comum. Conte a um conhecido uma história que possa acabar com ambos a trocarem um esgar cúmplice e aí está um primeiro laço entre os dois.
Bom, pois então o melhor é parar de trocar esgares cúmplices. Uma das ideias mais universais em todas as culturas e eras é que todos somos hipócritas e na nossa condenação da hipocrisia dos outros limitamo-nos a piorar a nossa. Os psicólogos sociais isolaram recentemente os mecanismos que nos tornam cegos à trave no nosso próprio olho. As implicações morais destas descobertas são perturbadoras; na realidade, são um verdadeiro desafio às nossas maiores certezas morais. Por outro lado, as suas implicações são de certa forma perturbadoras por nos libertarem de um moralismo destrutivo e de uma intolerância alienadora."
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in The Happiness Hypothesis, de Jonathan Haidt (psicólogo social), 2006