sábado, 13 de setembro de 2014

Natália Correia, Ode à Paz



Pela verdade, pelo riso, pela luz, pela beleza,
pelas aves que voam no olhar de uma criança,
pela limpeza do vento, pelos actos de pureza,
pela alegria, pelo vinho, pela música, pela dança,
pela branda melodia do rumor dos regatos,

pelo fulgor do estio, pelo azul do claro dia,
pelas flores que esmaltam os campos, pelo sossego dos pastos,
pela exactidão das rosas, pela Sabedoria,
pelas pérolas que gotejam dos olhos dos amantes,
pelos prodígios que são verdadeiros nos sonhos,
pelo amor, pela liberdade, pelas coisas radiantes,
pelos aromas maduros de suaves outonos,
pela futura manhã dos grandes transparentes,
pelas entranhas maternas e fecundas da terra,
pelas lágrimas das mães a quem nuvens sangrentas
arrebatam os filhos para a torpeza da guerra,
eu te conjuro ó paz, eu te invoco ó benigna,
ó Santa, ó talismã contra a indústria feroz.
Com tuas mãos que abatem as bandeiras da ira,
com o teu esconjuro da bomba e do algoz,
abre as portas da História,
deixa passar a Vida!


NATÁLIA CORREIA (13/9/1923 – 16/3/1993)

Em “ Inéditos”

segunda-feira, 30 de junho de 2014

Livraria do Desassossego (2)



O escritor e editor norueguês Christian Kjelstrup, à semelhança do que fez em Oslo, e de que dei conta aqui, vai ter um espaço cedido pela loja A Vida Portuguesa, de Catarina Portas, na Rua Anchieta, 11, em Lisboa, entre os dias 2 e 6 de Julho, onde venderá exclusivamente o Livro do Desassossego de Fernando Pessoa/ Bernardo Soares. No último dia desta iniciativa, a Casa Fernando Pessoa promoverá um serão de festa, poesia, cinema e música, com entrada gratuita, e actuações de Maria do Céu Guerra, Diogo Infante, Rogério Godinho, Mafalda Arnauth e João Afonso. Mas o ideal para ler tudo o que Christian Kjelstrup nos tem a dizer sobre o sucesso desta sua iniciativa, tanto na Noruega como a que agora espera para Lisboa, será seguir a página que abriu há poucos dias no Facebook – Livraria do Desassossego.

Aproveito para informar que Christian Kjelstrup é um dos convidados para o Colóquio "Fernando Pessoa's English Poetry", que se realiza no dia 3 de Julho no auditório da Casa Fernando Pessoa.  Entrada livre.




© Maria Paias

sexta-feira, 13 de junho de 2014

Fernando Pessoa/ Bernardo Soares, "Viver..."



Viver uma vida desapaixonada e culta, ao relento das ideias, lendo, sonhando, e pensando em escrever, uma vida suficientemente lenta para estar sempre à beira do tédio, bastante meditada para se nunca encontrar nele. Viver essa vida longe das emoções e dos pensamentos, só no pensamento das emoções e na emoção dos pensamentos. Estagnar ao sol, douradamente, como um lago obscuro rodeado de flores. Ter, na sombra, aquela fidalguia da individualidade que consiste em não insistir para nada com a vida. Ser no volteio dos mundos como uma poeira de flores, que um vento incógnito ergue pelo ar da tarde, e o torpor do anoitecer deixa baixar no lugar de acaso, indistinta entre coisas maiores. Ser isto com um conhecimento seguro, nem alegre nem triste, reconhecido ao sol do seu brilho e às estrelas do seu afastamento. Não ser mais, não ter mais, não querer mais… A música do faminto, a canção do cego, a relíquia do viandante incógnito, as passadas no deserto do camelo vazio sem destino…

Fernando Pessoa/ Bernardo Soares, in Livro do Desassossego

(13/6/1888 – 30/11/1935)

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Luísa Amaro - ARGVS



A compositora e intérprete Luísa Amaro apresentou o seu novo trabalho "ARGVS", na semana passada, no Museu do Oriente, e, na próxima semana, inserido na mostra "Olhares do Mediterrâneo", que vai decorrer de 6 a 8 de Junho no Cinema São Jorge, em Lisboa, fará uma nova apresentação no dia 7 de Junho, às 22h30, na Sala Montepio.

«Neste novo trabalho, Luísa Amaro é acompanhada pelo português Gonçalo Lopes (clarinetes), pelo italiano Enrico Bindocci (piano) e pela cantora cipriota Kyriacoula Constantinou (prémio Anguissola-Scotti 2010 para música de câmara).

Depois de “Meditherranios”, lançado em 2009, Luísa propõe neste trabalho uma “viagem musical pelo grande mar interior da Antiguidade, ontem como hoje território de cruzamento de culturas, trocas materiais e contrabando de sonhos, onde o trânsito dos homens se funde com o pulsar dos mitos: simultaneamente fronteira e ponto de contacto em que qualquer interrogação do passado é ainda uma interpelação ao futuro da Europa. Neste período de incertezas e convulsões, nada é mais actual que as temáticas mediterrânicas em que tão bem se entrosam as identidades do Sul europeu”, pode ler-se em comunicado.»

Os bilhetes para o concerto têm o custo de 10 euros e estão à venda na Ticketline e no Cinema São Jorge.

segunda-feira, 31 de março de 2014

Livraria do Desassossego



«O escritor norueguês Christian Kjelstrup, que considera o ‘Livro do Desassossego’, de Fernando Pessoa, a melhor obra literária do mundo, decidiu abrir hoje no centro de Oslo a Livraria do Desassossego, onde venderá exclusivamente aquele livro.

Em comunicado enviado à Lusa, a Casa Fernando Pessoa indica que Christian Kjelstrup, grande admirador não só da obra do heterónimo pessoano Bernardo Soares, como do resto da obra do escritor português, aproveitou a oportunidade única de arrendar apenas por uma semana um espaço comercial no centro da capital norueguesa para realizar aquele sonho antigo.
E, para dar um ambiente português à nova livraria, contará, ao longo de toda a semana, com a ajuda do emigrante português Joel Oliveira, que tocará, para os visitantes, a sua guitarra portuguesa.

No dia da inauguração, esta iniciativa do autor norueguês, que contou com o apoio da Embaixada de Portugal em Oslo, é já um êxito, refere a Casa Fernando Pessoa, tendo merecido uma reportagem no canal televisivo norueguês NRK, além de muitas referências e elogios nas redes sociais, que ainda não pararam de divulgar a 'pop-up store' (nome dado às lojas com tempo de vida limitado).

Na próxima segunda-feira, 31 de Março, decorrerá a ‘Noite de Pessoa’, a partir das 19h00 - um evento que contará com a participação de algumas personalidades da cultura norueguesa.
A Livraria do Desassossego terá as portas abertas apenas até 2 de Abril, de segunda a sexta-feira das 09h00 às 16h00 e ao sábado das 12h00 às 15h00.

Além do ‘Livro do Desassossego’, estão traduzidas em norueguês outras obras de Pessoa, como ‘A Hora do Diabo’, ‘A Educação do Estóico’, ‘O Banqueiro Anarquista’ e a Poesia do heterónimo Alberto Caeiro.»