quinta-feira, 29 de março de 2012
quarta-feira, 21 de março de 2012
W. B. Yeats: Quando fores velha
Quando fores velha, grisalha, vencida pelo sono,
Dormitando junto à lareira, toma este livro,
Lê-o devagar, e sonha com o doce olhar
Que outrora tiveram teus olhos, e suas sombras profundas;
Muitos amaram os momentos de teu alegre encanto,
Muitos amaram essa beleza com falso ou sincero amor,
Mas apenas um homem amou tua alma peregrina,
E amou as mágoas do teu rosto que mudava;
Inclinada sobre o ferro incandescente,
Murmura, com alguma tristeza, como o Amor te abandonou
E em largos passos galgou as montanhas
Escondendo o rosto numa imensidão de estrelas.
W. B. Yeats
in Poemas, Assírio & Alvim, Colecção Gato Maltês, Lisboa, 1988, p. 17, trad. de José Agostinho Baptista
Bach: Aria "Erbarme dich", pelo contratenor Andreas Scholl
Bach nasceu a 21 ou a 31 de Março de 1685, conforme o calendário que se adopte, o Juliano ou o Gregoriano.
terça-feira, 13 de março de 2012
Vivaldi: Vedro con mio diletto, pelo contratenor Philippe Jaroussky
Ária da ópera "Giustino" (RV717)
segunda-feira, 12 de março de 2012
Fernando Pessoa/ Álvaro de Campos: Os emigrados
Só nas grandes cidades desamigas,
Sem falar a língua que se fala nem a que se pensa,
Mutilados da relação com os outros,
Que depois contarão na pátria os triunfos da sua estada.
Coitados dos que conquistam Londres e Paris!
Voltam ao lar sem melhores maneiras nem melhores caras
Apenas sonharam de perto o que viram –
Permanentemente estrangeiros.
Mas não rio deles. Tenho eu feito outra coisa com o ideal?
E o propósito que uma vez formei num hotel, planeando a legenda?
É um dos pontos negros da biografia que não tive.
Fernando Pessoa/ Álvaro de Campos
in Poesia de Álvaro de Campos, Assírio & Alvim, Lisboa, 2002, Vol. I, p. 185
domingo, 4 de março de 2012
sexta-feira, 2 de março de 2012
Mia Couto: Ser que nunca fui
Começo a chorar
do que não finjo
porque me enamorei
de caminhos
por onde não fui
e regressei
sem ter nunca partido
para o norte aceso
no arremesso da esperança
Nessas noites
em que de sombra
me disfarcei
e incitei os objectos
na procura de outra cor
encorajei-me
a um luar sem pausa
e vencendo o tempo que se fez tarde
disse: o meu corpo começa aqui
e apontei para nada
porque me havia convertido ao sonho
de ser igual
aos que não são nunca iguais
Faltou-me viver onde estava
mas ensinei-me
a não estar completamente onde estive
e a cidade dormindo em mim
não me viu entrar
na cidade que em mim despertava
Houve lágrimas que não matei
porque me fiz
de gestos que não prometi
e na noite abrindo-se
como toalha generosa
servi-me do meu desassossego
e assim me acrescentei
aos que sendo toda a gente
não foram nunca como toda a gente
Mia Couto, in Raiz de orvalho e outros poemas
Subscrever:
Mensagens (Atom)