Já não sei andar só pelos caminhos,
Porque já não posso andar só.
Um pensamento visível faz-me andar mais depressa
E ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo.
Mesmo a ausência dela é uma coisa que está comigo.
E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar
.
Se a não vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas.
Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dela.
Todo eu sou qualquer força que me abandona.
Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no meio.
.
Poema de O PASTOR AMOROSO, 1930
8 comentários:
Boa noite, Josefa :)
Belo, belíssimo, este poema. Tão simples, tão belo e tão singelo, tal como consegue ser tudo isto, Alberto Caeiro.
Um abraço
Ana Paula,
Depois de responder ao seu comentário sobre o "Desafio" no Restolhando, lembrei-me que, entretanto, podemos ficar com este poema de Alberto Caeiro como se nos fosse dedicado.
Assim, ficamos nós a ganhar pela beleza e singeleza do mesmo.:)
Um abraço.
Maria Josefa,
Amar é assim; ficar sem jeito, sentir-se vazio quando se está pleno, debuchar-se ao espelho e ver a imagem amada.
Mas amar também é sofrer, tantas vezes pela ausência, outras tantas pelo esquecimento, as demais pela memória.
É lindíssimo este poema.
Ainda bem que o trouxe.
Um abraço grande.
Miguel,
Muito obrigada pelo seu comentário.
Abarcou todas as situações, mas, no meu modo de sentir, a do esquecimento é a mais dolorosa por ser, talvez, a que se poderia alterar. A ausência, pode ter muitas razões, algumas definitivas, daí a memória, e esta pode conter recordações boas que ainda hoje nos possam inspirar.
Um grande abraço.
Olá Josefa
Lindo poema de amor. A adolescência que atravessa todas as idades...
Obrigada.
Um beijo
Obrigada Manuela.
Com que então "a adolescência que atravessa todas as idades...".
Beijinho .
A complexidade
do simples
pela vida fora
É mesmo, Mar Arável.
Obrigada.
Abraço.
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