João Botelho é o realizador do Filme do Desassossego, cuja rodagem se inicia este mês em Lisboa, em homenagem ao Livro do Desassossego de Bernardo Soares, semi-heterónimo de Fernando Pessoa. Este filme será financiado pelo ICA, pela Câmara Municipal de Lisboa e pela RTP.
João Botelho já tinha realizado, em 1981, o filme Conversa Acabada, sobre Pessoa e Mário de Sá-Carneiro.
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Fonte: Mundo Pessoa
8 comentários:
Olá Josefa
Louvo a criatividade de quem conseguir transmitir, em filme, o desassossego de Fernando Pessoa.
Que o João Botelho tenha sucesso.
Um abraço
Benjamina,
Vou dizer-lhe uma coisa ao ouvido: não vejo filmes que se baseiem em livros de que tenha gostado muito, porque não quero interferências com os "filmes" que eu construí ao lê-los.
Não sei também como é que o João Botelho se vai sair desta!
Um abraço.
O Livro do Desassossego, com o seu carácter fragmentário, em que a sucessão das páginas não nos obriga a uma leitura ordenada, é considerado, por muitos estudiosos, um "anti-livro" com título de livro. E para mais é escrito por alguém, Bernardo Soares, que, estando tão perto de Pessoa, não é Pessoa. Que desassossego!
O filme de João Botelho centrar-se-á, certamente na cidade de Lisboa, enquanto território também ele fragmentado. Aliás está em preparação, pelo mesmo realizador, um documentário que se chamará, em princípio, “Os lugares de Pessoa”, onde serão visitados os locais que fizeram parte da sua vida e que fazem parte da nossa.
Mas será que um filme baseado num livro que não é um livro também não é um filme?
Tarefa difícil, sem dúvida que será. Mas agradeço a notícia. Como desassossegada, ficarei atenta :)
Um abraço.
Analima,
Obrigada pelo seu excelente comentário.
Para complicar um pouco mais, o filme vai passar-se com cenários e realidades de hoje.
Suponhamos que, em vez de chamarmos livro ao Livro do Desassossego, lhe chamávamos "Diário", porque quando o lemos apercebemo-nos de imediato que os textos são uma sucessão de conversas do autor consigo mesmo, ou da exposição dos seus estados de alma, à semelhança de alguns diários, e como já foram realizados filmes baseados em diários, pode ser que saia alguma coisa interessante do ponto de vista cinematográfico.
De qualquer modo, pessoalmente, prefiro um bom documentário a um mau filme.
Muito obrigada e um abraço.
Ana Paula,
Lendo os outros comentários, parece que estamos todas na mesma, ou seja, conscientes da dificuldade desta tarefa.
Obrigada e um abraço.
Li o Desassossego muitos anos depois de editada a versão de Richard Zenith que me ofereceram. Esse distanciamento prudencial deveu-se à reserva que sempre nutri em relação ao introspeccionismo extremo de Pessoa. Ou seja, li-o, não há muto tempo. Tenho de confessar: fiquei maravilhado e passei a respeitar muito mais Fernando Pessoa!
Também, como a Josefa, eu "vi" um filme daquele diário na "minha cabeça": como não vê-lo, aliás, tão expressiva aquela matinal Rua Augusta, na rotina do emprego de escritório, assim como o regresso a casa na Lisboa ao entardecer, ou os telhados da vizinhança em dia de Domingo ou de gazeta...
Aquela imagem de Fernando Pessoa, contabilista, no dia-a-dia do seu ganha-pão é, no entanto, algo inverídica se o virmos em semelhança a modestos empregados de escritório! Ele era bastante mais qualificado, tipo consultor e conselheiro, do que mero escriba dos livros selados. Para que conste, porque assim era.
À parte isso, era o seu mundo interior que, a mim, só me deslumbrou deveras nessa surpresa que foi "O Livro do Desassossego": até então, depreciava-o em comparação com Camões, de quem era um "invejoso" :)
vbm,
Muito obrigada pelas suas considerações, de que gostei francamente.
Se não for pedir muito, leia o postal de 28 de Outubro, neste blogue, com o título "Minha pátria é a língua portuguesa - contexto desta frase...", onde F. Pessoa (ortónimo) em cartas a amigos assinala as diferenças entre ele e Bernardo Soares (B.S. sou eu menos o raciocínio e a afectividade).
Bernardo Soares podia ser um modesto contabilista como semi-heterónimo, ou padeiro, ou maquinista de eléctrico, pois isso não é importante em termos literários, do mesmo modo que não são importantes as profissões que F. Pessoa atribuíu aos heterónimos Álvaro de Campos, Alberto Caeiro ou Ricardo Reis.
Obrigada.
Abraço.
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