Venho simplesmente dizer
que uma laranja é uma laranja
e comove saber que não é ave
Se o fosse não seriam ambas
uma só coisa volátil e doce
de que a ave é o impulso de partir
e a laranja o instinto de ficar.
Não sei de nada mais eterno
do que haver sempre uma só coisa
e ela ser muitas e diferentes
e cada coisa ternamente ocupar
só o espaço que pode rodeada
pelo espaço que a pode rodear.
Sei que depois da laranja
a laranja poderá ser até
mesmo laranja se necessária
mas cada vez que o for
sê-lo-à rigorosamente
como se de laranja fosse
a exacta fome inadiável.
De ser laranja gomo a gomo
o íntimo pomo se enternece
e não cabe em si de amor
embriagada de saber
que a sua morte nos será doce.
Natália Correia
Em Poesia Completa, Dom Quixote, Lisboa, 1999
2 comentários:
A nossa
Natália
ao vivo sempre
Fantástica Natália Correia, uma poetisa genial, como demonstra este poema e uma mulher de muita força, muita humanidade e muita luta.
Bem hajas.
Beijos
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