Tenho saudade de mim mesmo,
saudade sob aparência de remorso,
de tanto que não fui, a sós, a esmo,
e de minha alta ausência em meu redor.
Tenho horror, tenho pena de mim mesmo
e tenho muitos outros sentimentos
violentos. Mas se esquivam no inventário,
e meu amor é triste como é vário,
e sendo vário é um só. Tenho carinho
por toda perda minha na corrente
que de mortos a vivos me carreia
e a mortos restitui o que era deles
mas em mim se guardava. A estrela-d’alva
penetra longamente seu espinho
(e cinco espinhos são) na minha mão.
Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)
In Um eu todo retorcido, Antologia Poética, Círculo de Leitores, Lisboa, 2003
2 comentários:
Excelente
Para si tudo pelo melhor
neste inverno prolongado
e descontente
Obrigada!
Não sei o que me pesa mais, se o descontentamento se o cansaço.
Para si, desejo sempre o melhor.
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