Neste
dia de aniversário de Agustina Bessa-Luís, e para o assinalar, escolhi um
excerto que vem ao encontro do que escrevi ou mencionei, no outro blogue, sobre
algum do jornalismo que nos é servido e que, pura e simplesmente, não levo a
sério.
«”Para o jornalista, tudo o que é
provável é verdade”. Trata-se dum axioma estupendo, como tudo o que Balzac
inventa. Reflectindo nele, nós percebemos quantas falsidades se explicam e
quantas arranhadelas na sensibilidade se resumem a fanfarronices e não a
conhecimento dos factos. Em geral, o pequeno jornalista é um profeta da imprensa
no que toca a banalidades, e um imprudente no que se refere a coisas sérias.
Quando Balzac refere que a crítica só serve para fazer viver o crítico, isto
estende-se a muitas outras tendências do jornalista: o folhetinista, que é o
que Camilo fazia nas gazetas do Porto (...). Eu própria não estou isenta duma
soma de articulismos, de recursos à blague, de graças adaptáveis, de
frequentação do lado mau da imaginação, de ridículos, de fastidiosos conselhos,
de discursos convencionais, de condenações fáceis, de birras imbecis, de poesia
de barbeiro, de elegâncias chatas, de canibalismo vulgar, de panfletismo “bom
cidadão”. Quando não sou nada disso, sou assunto para jornais, mas não sou
jornalista.»
Agustina Bessa-Luís, in Dicionário Imperfeito
Agustina Bessa-Luís, in Dicionário Imperfeito
3 comentários:
Agustina
um mar de saberes
e relâmpagos
Tanta lucidez!
Verdade?
A verdade de cada um!
A relatividade da questão.
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