sexta-feira, 17 de julho de 2009

Rainer Maria Rilke - poesia

As cidades só pensam em si próprias
e arrasam tudo na sua corrida.
Despedaçam os animais como madeira oca
e consomem na tormenta povos inteiros.
.
E os seus homens, escravos das ciências,
perdem o equilíbrio e a medida,
e chamam progresso ao seu rasto de caracol;
a lentidão cede o passo à velocidade;
sentem e brilham como as prostitutas
e aturdem-se com ruídos de metais e vidros.
.
Como se uma miragem diariamente os ofuscasse,
eles já não conseguem ser eles próprios;
a força do dinheiro cresce e possui-os,
forte como vento do Leste, e eles são pequenos
e hesitantes e esperam do álcool
e do veneno dos fluidos humanos e animais
um ímpeto para os seus negócios efémeros.
.
E os teus pobres sofrem sob o seu jugo
e tudo o que vêem os oprime
e ardem gelados como em febre
e, expulsos de todas as casas,
andam pela noite como mortos estrangeiros;
carregados de toda a imundície do mundo,
são cuspidos como o que apodrece ao sol,-
por cada acaso, pela pintura das prostitutas,
por carros e lampiões insultados.
.
E se houver ainda uma voz para os defender,
faz que seja forte e persuasiva.
.
in "O LIvro da Pobreza e da Morte" (ou a 3.ª parte do Livro de Horas-1905)

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