Na primeira noite eles aproximam-se e colhem uma flor do nosso jardim, e não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem; pisam as flores, matam o nosso cão, e não dizemos nada.
Até que um dia o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a lua e, conhecendo o nosso medo, arranca-nos a voz da garganta. E porque não dissemos nada, já não podemos dizer nada.
Vladimir Maiakóvski, "Despertar é preciso", (1893-1930)
4 comentários:
Olá Josefa,
Já conhecia este poema, que considero realmente excepcional!
«E porque não dissemos nada, já não podemos dizer nada».
Pode adiantar-se outra versão:
E porque temos a possibilidade de dizer, tudo que dizemos parece que não representa nada!
Beijo,
Manuela
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Olá Manuela,
Agora fez-me lembrar o texto que publiquei no outro blogue, de Brecht. A solução mais fácil não seria a dos governos elegerem o povo e não ao contrário? É que assim poderiam escolher um que fosse manso, calado, curvado, obediente, tudo o que nós não somos nem queremos ser. Até pode parecer que o que dizemos não representa nada, mas não nos calaremos. A não ser que nos cortassem a garganta, como no texto de MaiaKóvski, e aí já não podíamos dizer nada, seria demasiado tarde, estaríamos mortos. Então, não devemos ficar calados perante o que vai acontecendo, a nós e/ou a outros, e que mereça a nossa crítica ou o nosso repúdio.
Boa noite e beijinho.
Exelente ! no proximo sarau que se realizara no bixiga 15 /03 parti das 20 hs sarau suburbano convicto esse sera o peoma que irei declamar coneheço ele a alguns anos. parabens pelo blog!
@criadasruas.
O autor, EDUARDO ALVES DA COSTA, (Niterói RJ 1936) concluiu o curso de Direito na Universidade Mackenzie em 1952, em São Paulo SP. Por volta de 1960 organizou as Noites de Poesia, no Teatro Arena, em São Paulo. Participou no movimento dos Novíssimos, da Massao Ohno, em 1962. Entre 1962 e 1989 publicou a novela Fátima e o Velho, o romance Chongas e o livro de contos A Sala do Jogo. Recebeu, em 1978, o prêmio Anchieta de Teatro para a peça As Campainhas. Em 1994 foi lançado seu livro juvenil Memórias de um Assoviador. Entre 1996 e 1998 foi cronista do jornal paulistano Diário Popular. Seu único livro de poesia, No caminho, com Maiakóvski, foi publicado em 1985. A reedição é de 2003, pela Geração Editorial, com o título No Caminho com Maiakóvski; Poesis Reunida. O editor Luiz Fernando Emediato escreveu sobre o livro:
“EDUARDO ALVES DA COSTA é autor de alguns dos maiores e mais belos poemas da língua portuguesa. O fragmento de um deles, No Caminho, com Maiakóvski, sem dúvida o mais popular — transformado em bandeira contra a ditadura nos anos 70, em pôster, cartões postais, estampa de camiseta da campanha Diretas Já, mensagem massificada na Internet — já foi conhecido, em todo o Brasil, como o poema mais famoso e representativo de... Vladimir Maiakóvski, o poeta russo. O equívoco, que durou muitos anos, é mais uma vez corrigido neste livro” (...)
Isso é verdade? Estou confusa!
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