segunda-feira, 7 de setembro de 2009

António Aleixo - quadras


Tem quase um palmo de boca
não pode guardar segredos;
porém a testa é que é pouca:
tem pouco mais de dois dedos.
.
P'ra mentira ser segura
e atingir profundidade
tem de trazer à mistura
qualquer coisa de verdade.
.
Que importa perder a vida
em luta contra a traição,
se a Razão mesmo vencida,
não deixa de ser Razão.
.
São parvos, não rias deles,
deixa-os ser, que não são sós:
às vezes rimos daqueles
que valem mais do que nós.
.
Julgando um dever cumprir,
sem descer no meu critério,
digo verdades a rir
aos que me mentem a sério!
.
Sem que discurso eu pedisse,
ele falou, e eu escutei.
Gostei do que ele não disse,
do que disse não gostei.
.
Tu, que tanto prometeste
enquanto nada podias,
hoje que podes - esqueceste
tudo o que prometias...
.
Os novos que se envaidecem
pelo muito que querem ser,
são frutos bons que apodrecem
mal começam a nascer.
.
Mentiu com habilidade,
fez quantas mentiras quis,
agora fala verdade,
ninguém crê no que ele diz.
.
António Aleixo, poeta popular, cujo centenário do nascimento e cinquentenário da morte se assinalou em 1999.

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