Porque, a certa altura, a gente tem que estar cansado.
De que estou cansado, não sei:
De nada me serviria sabê-lo,
Pois o cansaço fica na mesma.
A ferida dói como dói
E não em função da causa que a produziu.
Sim, estou cansado,
E um pouco sorridente
De o cansaço ser só isto -
Uma vontade de sono no corpo,
Um desejo de não pensar na alma,
E por cima de tudo uma transparência lúcida
Do entendimento retrospectivo...
E a luxúria única de não ter já esperanças?
Sou inteligente; eis tudo.
Tenho visto muito e entendido muito o que tenho visto,
E há um certo prazer até no cansaço que isto nos dá,
Que afinal a cabeça sempre serve para qualquer coisa.
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(de Poemas/Álvaro de Campos)
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(de Poemas/Álvaro de Campos)
4 comentários:
Maria Josefa,
os três versos finais dizem tudo.
É o que nos resta da nossa "bagagem do viajante" que somos enquanto ainda cá estamos.
Um abraço
É verdade, Miguel. E hoje, mais do que nunca, ter uma cabeça para pensar e compreender é absolutamente imprescindível, pois o que observamos diariamente parece ir em sentido contrário.
Um abraço.
O que este magnífico poema diz é também o que eu sinto, sem conseguir dizê-lo. Do imenso cansaço ao sono imenso, perante tanto que vê e não se compreende, ou que se compreende bem demais.
Beijinhos, Josefa :)
E obrigada.
Como a entendo, Ana Paula!
Ah, "o que se compreende bem demais"!
Beijinho :)
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