não obedece ao sino da paróquia,
prefere atiçar os seus cães
às pernas de deus e dos cobradores
de impostos.
Língua de fogo do não,
caminho estreito
e surdo da abdicação, a poesia
é uma espécie de animal
no escuro recusando a mão
que o chama.
Animal solitário, às vezes
irónico, às vezes amável,
quase sempre paciente e sem piedade.
A poesia adora
andar descalça nas areias do Verão.
.
Eugénio de Andrade
.
Ainda bem que "a poesia adora andar descalça nas areias do Verão", porque hoje, dia em que o poeta completaria 87 anos se fosse vivo, continua a ser analisado pela presidência do Conselho de Ministros o pedido de extinção da Fundação Eugénio de Andrade, feito pelo conselho directivo da mesma e devido a dificuldades financeiras.
Mas como ainda não foi extinta, a Fundação Eugénio de Andrade organizou para hoje, às 18.30h, na sua sede no Porto, Rua do Passeio Alegre, um debate sobre poesia portuguesa, com intervenções iniciais de Rosa Alice Branco e Rui Lage. A entrada é livre.
9 comentários:
Ana Paula,
Esperemos que a situação se resolva de forma positiva, caso contrário a memória de Eugénio de Andrade ficará mais pobre e ele não o merece.Claro que se pode argumentar que a memória do poeta é a sua obra e é verdade; mas o seu espaço e a sua recordação também fazem parte do seu universo.
E, bolas! Há para aí tanta fundação onde se derrete dinheiro e para esta não se arranjarão uma meia dúzia de tostões ? E no Porto ou fora dele não haverá um resquício de mecenato para manter viva essa memória ?
Quanto ao poema é lindo como todos.
Um abraço.
Maria Josefa, quem me dera gozar dessa liberdade; que inveja tenho dos que vagueiam descalços na areia da praia.
um abraço
O que eu anseio por esse verão, para também eu poder andar descalço nessas areias.
Há de chegar o dia ... há de chegar !
Eugénio é referencia nacional
se o Porto tiver dificuldades
que acorde o país
Recordar um aniversário é sempre um bom pretexto para nos lembrarmos de um poeta como Eugénio de Andrade. E, neste caso, para não nos esquecermos do que é a poesia.
Um beijinho
Miguel, Paulo, Eduardo, Mar Arável e Analima, muito obrigada pelos vossos comentários.
Escolhi este poema porque, dadas as circunstâncias da Fundação, a frase "A poesia adora andar descalça nas areias do Verão" deu-me a noção de que a poesia não quer espartilhos, muito menos institucionais. Ela quer andar por aí, livre, solta, de boca em boca, de coração em coração, dita ou lida, magnífica como a de Eugénio de Andrade.
Abraços e beijinhos.
Josefa, obrigada por lembrar o aniversário do nosso grande poeta.Desejo que as dificuldades sejam ultrapassadas, que a Fundação não seja extinta e que a poesia continue a andar descalça nas areias do verão.
um beijo
Olá, Josefa :)
É belíssima a frase com a qual termina o poema! Cheia de um conteúdo incisivo também, já que a poesia está quase sempre descalça face a tanto mais que se considera rentável.
Por isso, concordo consigo: "ainda bem que a poesia gosta...". Ela é livre, acima de tudo.
Beijinhos. E muito obrigada pelo excelente poema.
partilha de silêncios e Ana Paula, obrigada pelos vossos comentários e por terem gostado do poema que escolhi para esta homenagem a Eugénio de Andrade e à poesia.
Beijinhos.
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