É a minha descoberta de todos os dias.
Cada coisa é o que é,
E é difícil explicar a alguém quanto isso me alegra,
E quanto isso me basta.
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Basta existir para se ser completo.
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Tenho escrito bastantes poemas.
Hei-de escrever muitos mais. Naturalmente.
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Cada poema meu diz isto,
E todos os meus poemas são diferentes,
Porque cada coisa que há é uma maneira de dizer isto.
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Às vezes ponho-me a olhar para uma pedra.
Não me ponho a pensar se ela sente.
Não me perco a chamar-lhe minha irmã.
Mas gosto dela por ela ser uma pedra,
Gosto dela porque ela não sente nada.
Gosto dela porque ela não tem parentesco nenhum comigo.
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Outras vezes oiço passar o vento,
E acho que só para ouvir passar o vento vale a pena ter nascido.
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Eu não sei o que é que os outros pensarão lendo isto;
Mas acho que isto deve estar bem porque o penso sem estorvo,
Nem ideia de outras pessoas a ouvir-me pensar;
Porque o penso sem pensamentos
Porque o digo como as minhas palavras o dizem.
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Uma vez chamaram-me poeta materialista,
E eu admirei-me, porque não julgava
Que se me pudesse chamar qualquer coisa.
Eu nem sequer sou poeta: vejo.
Se o que escrevo tem valor, não sou eu que o tenho:
O valor está ali, nos meus versos.
Tudo isso é absolutamente independente da minha vontade.
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de Poemas Inconjuntos/Alberto Caeiro
9 comentários:
Maria Josefa,
Bom dia.
Que maravilha acordar e ler este magnífico poema.
Obrigado.
Um abraço.
Josefa
Concordo com o Miguel. Obrigada.
Um beijinho
Julgo que este poema de Charles Reznikoff exprime um sentimento semelhante:
TE DEUM
Not because of victories
I sing,
having none,
but for the common sunshine,
the breeze,
the largess of the spring.
Not for victory
but for the day's work done
as well as I was able;
not for a seat upon the dais
but at the common table.
Bom dia, Miguel, e obrigada.
Depois da nossa troca de impressões sobre as duas Odes de Ricardo Reis achei oportuno publicar este poema de Caeiro onde se continua a verificar a sua alegria pelas coisas simples da vida, por aquilo que os seus olhos vêem.
Um abraço.
Obrigada, Benjamina.
Um beijinho :)
Carlos Pires, muito obrigada.
Não sei se poderia ter escolhido melhor como aproximação a Caeiro. Excelente!
Um abraço.
A espantosa realidade
dos infinitos
Bj
Josefa,concordo com Caeiro, para todos a espantosa realidade das coisas deveria ser a descoberta de todos os dias.
bjs
MARIA JOSEFA PAIAS: é lindo este seu divulgar a obra de Pessoa! Quantas vezes li este poema com os meus alunos!
BEIJO DE
LUSIBERO
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