quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Fernando Pessoa/Álvaro de Campos - "Começo a conhecer-me. Não existo."

Começo a conhecer-me. Não existo.
Sou o intervalo entre o que desejo ser e os outros me fizeram, ou metade desse intervalo, porque também há vida...
Sou isso, enfim...
Apague a luz, feche a porta e deixe de ter barulhos de chinelos no corredor.
Fique eu no quarto só com o grande sossego de mim mesmo.
É um universo barato.
.
de Poemas/Álvaro de Campos

11 comentários:

Miguel Gomes Coelho disse...

Maria Josefa,
Este sentimento de se sentir "intervalo" é semelhante ao sentimento de se julgar "intermédio" por parte de Mário Sá-Carneiro.
Também, julgo, se pode notar a afirmação do homem sensível que se resguarda no seu universo interior, que recusa abrir a janela e o olhar o mundo que o fere e que, no seu individualismo,lhe causa repulsa.
Será ?
Um abraço.

Eduardo Miguel Pereira disse...

Só, fechado em si mesmo no seu quarto, podia e conseguia ser apenas ele, não aquilo que queria ser ou que os outros dele fizeram.
Seria com certeza, barato, e seguramente muito mais que apenas metade de intervalos.

Ana Paula Sena disse...

Bom, revejo-me bastante "nisto". É que é mesmo barato :) , sossegado e fértil.

Tudo o mestre pensou!

Obrigada, Josefa.

ganjamind disse...

Todas as noites me deito num livro para em outra vida desaguar.
(...)
Mia Couto

Maria Josefa Paias disse...

Miguel, Eduardo, Ana Paula e ganjamind muito obrigada pelos vossos contributos para as leituras possíveis deste poema de Álvaro de Campos, porque, para ser franca, os últimos poemas que tenho lido deste heterónimo têm-me deixado um pouco perplexa por estarem um pouco "desalinhados" com o do Engenheiro Naval que Fernando Pessoa criou.
Hoje fiquei mais rica :))
Obrigada e abraços.

P.S. Para o ganjamind, obrigada também pela visita. Espero que volte :)

Hugo Macedo disse...

Fernando Pessoa, para mim, continuar ser o único. Dificilmente haverá alguém como ele.

Unknown disse...

Acho que se trata de um eu lirismo
Falando de um personagem que não existe

Rodrigo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Rodrigo disse...

O ser humano é formado por uma série de fatores internos e externos, o que não permite uma posição definitiva sobre o que somos. A consciência é auto- reflexiva ou seja pensa sobre si mesma, neste momento ele existe pois é um “ser-para-si” e não mais como um “ser-para-outro”.

Unknown disse...

Vejo-o como um ser em formação, um feto, sem vida própria, apenas uma quase "meia-vida". Dependente do útero materno, seu quarto escuro; sem querer ser partido, vir ao mundo, nascer para a vida e viver a própria vida.

Unknown disse...

O ser humano só consegue ser completo, e até mesmo existir somente com a existencia do outro, sozinho não acontece a dialetica que da o sentido da existencia e da identidade...