Burgueses somos nós todos
ó literatos
burgueses somos nós todos
ratos e gatos
Mário Cesariny
Mário nós não somos todos burgueses
os gatos e os ratos se quiseres,
os literatos esses são franceses
e todos soletramos malmequeres.
Da vida o verbo intransitivo
não é burguês é ruim;
e eu que nas nuvens vivo
nuvens! O que direi de mim?
Burguês é esse menino extraordinário
que nasce todos os anos em Belém
e a poesia se não diz isto Mário
é burguesa também.
Burguês é o carro funerário.
Os mortos são naturalmente comunistas.
Nós não somos burgueses Mário
o que nós somos todos é sebastianistas.
.
de Poesia Completa, D. Quixote, 1999
4 comentários:
Bravo!
Um poema brutal. Absolutamente magnífico. E ela magnífica foi... continua a ser.
Um abraço, Josefa :))
Este grupo dos Surrealistas produziu do melhor que a nossa literatura conhece.
Natália Correia, Cesariny e O'Neill, entre outros, foram de facto notáveis.
Concordo com a Paula: magnífico!
Adorei este poema resposta ao Césariny, uma maravilha.
Obrigada, Josefa. Um abraço
Ana Paula, Eduardo e Manuela, muito obrigada.
Nem calculam o prazer que me dá, depois de ler alguns poemas da Natália muito eruditos, muito camonianos, ler os que ela fez como resposta a poetas (como é o caso) ou a situações (como o do caso do deputado do CDS que está no "Restolhando"), porque não lembravam a mais ninguém :))
Tenho aqui o "Requiem a Marcelo" (Marcelo Rebelo de Sousa quando perdeu as autárquicas de 1989), mas só seria oportuno publicá-lo se ele deixasse de ser comentador e voltasse em exclusivo à vida académica, por outras palavras, se se calasse, pois assim é que o poema seria pertinente e teria mais graça. A RTP vai alterar este tipo de conversas com um só comentador, mas ainda não sei qual é o novo modelo nem se Marcelo continuará, embora ontem ele tivesse dito à Maria Flor Pedroso que continuava disponível. Enfim, qualquer dia publico-o, sem necessitar de razão para tal, apenas pela graça :)
Abraços.
Enviar um comentário