sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Natália Correia - "Verdadeira litania para os tempos da revolução"


Burgueses somos nós todos

ó literatos

burgueses somos nós todos

ratos e gatos

Mário Cesariny

Mário nós não somos todos burgueses

os gatos e os ratos se quiseres,

os literatos esses são franceses

e todos soletramos malmequeres.

Da vida o verbo intransitivo

não é burguês é ruim;

e eu que nas nuvens vivo

nuvens! O que direi de mim?

Burguês é esse menino extraordinário

que nasce todos os anos em Belém

e a poesia se não diz isto Mário

é burguesa também.

Burguês é o carro funerário.

Os mortos são naturalmente comunistas.

Nós não somos burgueses Mário

o que nós somos todos é sebastianistas.

.

de Poesia Completa, D. Quixote, 1999

4 comentários:

Ana Paula Sena disse...

Bravo!

Um poema brutal. Absolutamente magnífico. E ela magnífica foi... continua a ser.

Um abraço, Josefa :))

Eduardo Miguel Pereira disse...

Este grupo dos Surrealistas produziu do melhor que a nossa literatura conhece.
Natália Correia, Cesariny e O'Neill, entre outros, foram de facto notáveis.

Manuela Araújo disse...

Concordo com a Paula: magnífico!
Adorei este poema resposta ao Césariny, uma maravilha.
Obrigada, Josefa. Um abraço

Maria Josefa Paias disse...

Ana Paula, Eduardo e Manuela, muito obrigada.
Nem calculam o prazer que me dá, depois de ler alguns poemas da Natália muito eruditos, muito camonianos, ler os que ela fez como resposta a poetas (como é o caso) ou a situações (como o do caso do deputado do CDS que está no "Restolhando"), porque não lembravam a mais ninguém :))
Tenho aqui o "Requiem a Marcelo" (Marcelo Rebelo de Sousa quando perdeu as autárquicas de 1989), mas só seria oportuno publicá-lo se ele deixasse de ser comentador e voltasse em exclusivo à vida académica, por outras palavras, se se calasse, pois assim é que o poema seria pertinente e teria mais graça. A RTP vai alterar este tipo de conversas com um só comentador, mas ainda não sei qual é o novo modelo nem se Marcelo continuará, embora ontem ele tivesse dito à Maria Flor Pedroso que continuava disponível. Enfim, qualquer dia publico-o, sem necessitar de razão para tal, apenas pela graça :)
Abraços.