Direitos dos consumidores
.A Luísa telefonou-me e disse: - Tem de ouvir esta! Como sabe, aos fins-de-semana a BP reduz o preço dos combustíveis em 6 cêntimos, mas reduz também o número de empregados ao balcão, ou seja, há mais viaturas a abastecer e menos gente para atender os clientes. Este domingo fui lá e encontrei uma fila ao balcão que já se prolongava para o exterior da loja. A causa - só estava uma empregada. A fila lá ía a passo de caracol, uns a pagar combustível e jornais, outros só jornais ou revistas, outros pão, água, tabaco, enfim, o que se vende nesses postos que têm loja de conveniência. A certa altura, um pouco à minha frente, dois homens pediram garrafas de gás propano. A empregada disse-lhes que não podia ir lá fora dar-lhes as garrafas porque a colega tinha ido almoçar e ela estava sozinha e não podia deixar o balcão. Esses clientes disseram à empregada que isso não era problema deles, que não havia qualquer cartaz escrito com essa informação, que estavam há quase meia hora na fila e precisavam do gás, a empregada que ligasse ao chefe para resolver o problema porque eles dali não saíam e que, enquanto não fossem atendidos, mais ninguém o seria - e a fila a crescer. Alguém do fundo da fila sugeriu que pedissem o livro de reclamações para o preencherem enquanto esperavam; outro dizia que, se não querem contratar mais empregados, mais valia fecharem aos fins-de-semana, que os clientes iriam a outro lado, que o que há mais por aqui são postos de abastecimento de combustível. Entretanto a empregada telefonou ao chefe a expôr-lhe a situação e colocou uma tabuleta com a indicação que, de momento, não vendiam garrafas de gás.
Estava eu encantada com toda esta demonstração de conhecimento dos direitos dos consumidores e com a posição firme daqueles 2 clientes em não darem a vez a outros enquanto não fosse resolvido o seu problema quando um deles resolve dizer: vamos mas é embora (e um palavrão)! Lembrei-me, então, de um estudo publicado há cerca de um mês por um organismo europeu em que se concluía que os portugueses eram, entre os europeus, os que reclamavam menos dos serviços, e de ter pensado, nessa altura, que eles não conhecem os portugueses. Quanto a reclamações e queixas, para não dizer queixinhas, devemos estar entre os primeiros. Só que nestas coisas, o que conta para as estatísticas são as reclamações escritas, apresentadas segundo a legislação dos respectivos países, e aí, está bem, está!, os portugueses são avessos a assinarem reclamações onde têm que identificar-se e, por vezes, até apresentar testemunhas. A não ser que seja só por preguiça! Se aqueles clientes da BP tivessem levado até ao fim a sua atitude, que além de pedagógica para alguns que estavam na fila, quem sabe se não contribuiriam para a contratação de mais uma pessoa para aquela loja de conveniência. Mas isto já sou eu a divagar.
2 comentários:
Infelizmente, acontecem situações semelhantes, um pouco por todo o lado.
É uma questão cultural também, já que reclamar é um acto cívico, a meu ver. Desde que com fundamentos reais.
Gostei muito de ler. É um excelente apontamento, este.
Obrigada Ana Paula. Talvez valha a pena continuar a dar vida à "Luísa" para ver o que ela nos vai trazendo da vida real.
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